Parecia cena de filme. A luz que vinha da janela, seus cabelos longos de lado, sua postura elegante, um livro na mão. Laura é diferente. De deixar a gente sem graça por não conseguir acompanhá-la numa conversa literária. Ela fala sobre vida, sobre gostos, sobre seu cachorro, que um dia a visitou e revirou o quarto, em bagunça e sentimentos. Educada, adorava nossas visitas sem propósito rotineiro, sugeri uma sessão de fotos.
Naquele Dia das Mães, pedi licença para mãe e filha, acordadas há pouco tempo. Os cabelos ainda emaranhados, a mãe arrumando alguma coisa no quarto, se desculpando por outra coisa qualquer. Pensei em algo espontâneo, um café da manhã compartilhado naquela situação incomum, xícaras, talvez o livro numa composição um pouco armada, às vezes, inventamos a espontaneidade, às vezes funciona. Laura chamou a mãe e posaram abraçadas, olhando para mim. Gostei por algum motivo, ainda me sentindo pouco inspirada naquela manhã, havia, no entanto, outras crianças para fotografar e o tempo era curto. Quando montei o painel, toda orgulhosa, recebi elogios e agradeci com gentileza e vergonha, sabia que poderia haver mais poses, mais graça, mais originalidade.
Um dia, encontrei o Dr. André parado em frente ao painel. Passei por trás dele, e aí gostou? Ele, muito. Percebi que olhava em especial para aquela foto, mãe e filha. Ele me disse, essa foto é muito bonita. E me explicou o que havia de tão especial. Olhe mais de perto, percebe? Não percebi. Meu amigo apontou a inversão sutil de aconchego, de abraço, de confiança, de que tudo vai ficar bem. Olhei a foto e me assustei com a impressão do momento decisivo, a emoção capturada, o momento mágico que os fotógrafos tanto buscam. Outra cena daquele filme em construção, a mãe abrigada, a filha corajosa e a fotógrafa, distraída.
Suzana Berlim (2022)
A História de Laura Furquim Gonçalves
Aos 14 anos e após 11 meses de busca com sua mãe por um diagnóstico, em abril de 2021, Laura foi diagnosticada com um linfoma grey-zone no mediastino. Imediatamente, iniciou um tratamento quimioterápico internada na UTI e, após 3 ciclos de 5 dias de infusão a cada 21 dias, em agosto de 2021, começou o tratamento ambulatorial.
Nunca pensou em desistir, acreditou que o tratamento daria certo e seguiu confiante, mesmo quando necessitou de 22 sessões de radioterapia e ainda que o tumor tenha recidivado em abril de 2022.
Recentemente, em outubro de 2022, após 3 ciclos de imunoterapia, a noticia da remissão premiou sua luta, afagou sua alma e a preparou para seguir ainda mais segura em si mesma, na característica de fênix de que é dotada a sua personalidade e na crença de que o universo, de desígnios imponderáveis, ajuda em quem Nele confia.
Ainda que esteja aguardando a decisão médica sobre eventual autotransplante, Laura segue feliz, construindo dia a dia o um futuro mais saudável, sem jamais esquecer de cada um dos médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas, dentistas, secretárias, agentes da limpeza e da portaria do hospital, enfim, de todos os demais profissionais que a ajudaram, afagaram, incentivaram. A eles, ela sempre será grata.
Cláudia (mãe de Laura Furquim)
Minha história
Em maio do ano passado, descobrimos que eu tinha um tumor de mediastino. Para mim, foi como um pesadelo, inicialmente, não entendia como aquilo aconteceu comigo. Coma a ajuda de vários profissionais, meus dias lutando contra essa doença foram significantemente menos sombrios. Mesmo que estar doente seja uma cisrcunstância ruim, há um tratamento. A doença não significa que tudo está perdido, e sim, o contrário, é como uma segunda chance.
Laura Furquim
