Eduardo foi internado com febre em julho, parecia uma infecção simples. Os exames mostraram uma neutropenia grave, quer dizer, suas células de defesa estavam com uma contagem muito baixa. Pensamos em leucemia, um tipo de câncer, a internação agora era em busca do diagnóstico. O menino foi para a UTI.

Seus pais, ainda que abalados, colaboravam para que a internação fosse tranquila. Foram muitos exames, a cada tentativa de punção venosa, buscavam distrações, cantavam, consolavam, compartilhavam a angústia e o choro do pequeno. Eram parceiros também da equipe, mantinham a confiança todo o tempo. O menino queria ir embora, choramingava, pedia baixinho, quero ir para casa, ele era doce, mesmo nos momentos mais difíceis.

Diante de uma suspeita como leucemia, o processo diagnóstico segue um caminho penoso de identificação mais precisa, classificação de tipo, subtipos, qual a expansão, qual a gravidade. A família tinha muita esperança, para eles não era, não podia ser. A equipe concordava, compreensiva e pessimista, vamos ver os próximos exames, vamos aguardar. Quando o oncologista trouxe o resultado inesperado, foi surpresa e alívio coletivo. Eduardo não tinha leucemia e estava de alta.

A boa notícia chegou no dia que o menino ganhou um carrinho. Eduardo ficou feliz com o presente. E porque ia embora, claro. Nem imaginava quantas outras questões importavam, sequer sabia da esperteza de mamãe, papai e vovôs.

Naquele dia, fiquei em dúvida sobre prioridades. Eu estava com a câmera na mochila, mas com o estetoscópio no pescoço, e uma série de tarefas no plantão. Registrar aquela alegria ou providenciar os documentos de sua alta? O dia dos pais estava próximo, aquele modelo era especial, o momento, único. Pai, filho, carrinho, sorrisos, luz da manhã, entende? Nos entendemos. Registrei a foto, Eduardo, entretido com seu carrinho, o pai, sem o peso de um caminhão em suas costas.

Imprimi os exames, entreguei seu relatório, tchau Dudu! Cuidei da foto e do painel comemorativo do mês. Ficou lindo. Eduardo e papai não viram, já estavam em casa, comemoravam um dia dos Pais mais que especial.

Suzana Berlim (2023)

Quando reescrevi o texto, entrei em contato com o papai Ronnie, queria saber do Dudu. Ele continuou com as consultas e exames por alguns meses. Em dezembro de 2022, o painel genético revelou que não havia nenhum problema com a sua imunidade. Ele segue fã de carrinhos e corridas.

Eduardo no dia da sua alta 08/08/22
Eduardo e sua gentileza durante a internação
Eduardo voltou para a escola!

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